Como o ESG afeta o mercado imobiliário e as cidades

ESG: Se até pouco tempo o conceito de investimentos sustentáveis e socialmente responsáveis era visto apenas como uma tendência, hoje sua real aplicação é fundamental na concepção, sobrevivência e crescimento de um negócio

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ESG é a sigla para environmental, social and governance, cuja definição aponta se uma empresa, projeto ou fundo é, além de financeiramente viável, responsável nas questões relacionadas à governança ambiental, social e corporativa.

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Se até pouco tempo o conceito de investimentos sustentáveis e socialmente responsáveis era visto apenas como uma tendência ou um acessório de imagem, hoje sua real aplicação é fundamental na concepção, sobrevivência e crescimento de um negócio. Além do lucro e dos números do caixa, os critérios ESG estão determinando o potencial e o desempenho de empresas de todos os setores.

Estes critérios podem ser assim exemplificados:

  • Práticas ambientais: uso de matéria-prima sustentável, emissão de carbono, descarte correto de lixo, poluição gerada nos processos, redução do consumo hídrico, eficiência energética;
  • Questões sociais: relacionamento com sociedade, funcionários e comunidade afetada por suas atividades, diversidade, representatividade;
  • Governança: controle e direcionamento ético do negócio, liderança consciente, estrutura do conselho de administração, prevenção às fraudes e corrupção.

Dito isto, por que a agenda ESG é importante para o mercado imobiliário e para o desenvolvimento das cidades?

Em 1950 havia no mundo apenas duas megacidades (metrópoles com mais de 10 milhões de habitantes), Nova York e Tóquio. Dados do jornal The Economist mostram que em 2020 elas já eram 32. Até 2050, mais de 70% da população viverá em cidades. Para construí-las e mantê-las, no entanto, é preciso concreto, aço, ferro e mão de obra, gerando grandes impactos ambientais e sociais.

Além disso, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) indica que o setor da construção e infraestrutura responde por 38% das emissões de CO2 relacionadas à energia e consome quase 50% dos recursos naturais extraídos do planeta.

Diante da urgência destes dados, a adesão das empresas do segmento aos indicadores ESG parece aquém de sua importância. No Brasil, a construção civil é um dos setores menos verdes da Bolsa. Das 27 empresas listadas na B3, apenas uma tem metas ambientais específicas. Como consequência, apenas 3% do portfólio ESG dos fundos de investimento existentes está nesse segmento.

Não que inexistam ações de impacto positivos, pelo contrário, vários atributos de sustentabilidade são bastante comuns nos empreendimentos imobiliários, bem como iniciativas sociais intracanteiros de obras também são uma realidade. Porém, a real compreensão do que vem a ser ESG vai um pouco além, como bem diz Carolina da Costa, da Mauá Capital: “ESG não é certificação, não é compliance, não é checklist e muito menos apenas os aspectos ambientais. É criação de valor”.

Ora, se as empresas já cumprem vários requisitos caros às práticas ESG, como, então, gerar valor a partir delas? Dentre outros fatores, três são fundamentais:

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Inserir o ESG nos valores, no propósito, na missão e na estratégia da empresa

A essência do conceito ESG está em conciliar o lucro com a geração de impacto positivo para as pessoas e para o planeta. Porém, não se trata apenas de Responsabilidade Social (CSR), ou seja, não é apenas uma ação complementar voltada para fora, “eu tenho o meu negócio e também ajudo as pessoas”. A busca por “fazer o bem” e “impactar positivamente” embrenha-se no core da empresa e em todos os que lá atuam, a começar pela liderança, e independe do tamanho da empresa. Sim, ESG não é uma preocupação apenas das grandes empresas.

Neste sentido, penso que o mercado imobiliário tem nas mãos uma rica matéria-prima para a geração de valor: a realização do sonho da casa própria, a redução do déficit habitacional, o desenvolvimento de cidades para pessoas são alguns exemplos. O desafio é deslocá-las do “efeito” e trazê-las para a “causa”, para a razão de existir da empresa. E, claro, esta busca precisa ser genuína e autêntica, do contrário, vira farsa.

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Visão multi-stakeholders

Rachel A. S. Karam, sócia da Tesk Sociedade de Advogados, associa o ESG a uma nova etapa do capitalismo: “o que estamos vivendo agora é a mudança do capitalismo. Até então, era uma dinâmica unicamente voltada para a maximização do lucro do acionista, mas passamos para uma visão que inclui o interesse dos stakeholders. O capitalismo de stakeholders preza que esteja escrito no seu contrato social que seu objetivo social seja voltado à geração de impacto socio-ambiental positivo”.

“Stakeholders” são os múltiplos atores envolvidos direta ou indiretamente no negócio. No caso do mercado imobiliário, por exemplo, são os clientes finais, colaboradores, corretores, governos, fornecedores, investidores, acionistas e, claro, a cidade. E praticar os princípios ESG é ter uma visão que englobe todos esses envolvidos.

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Métricas e indicadores adequados

As métricas são essenciais não apenas para que as empresas possam ter a dimensão dos impactos sociais e ambientais que provocam, mas, também, para comunicá-los de forma adequada.

Pesquisa realizada pela Grant Thornton Brasil, a XP Inc. e a Fundação Dom Cabral demonstram que, embora a maioria das organizações considera a avaliação de riscos socioambientais uma prioridade, ainda há dificuldades em lidar com a subjetividade dos aspectos ESG: apenas 21% dos participantes indicaram ter métricas quantificáveis para analisar o desempenho ESG.

Na mesma medida em que o mercado financeiro se torna mais exigente quanto à pauta ESG, as empresas precisam aprimorar seus processos de mensuração e apresentação de resultados.

Fonte: A Gazeta

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