2022 será um bom ano para comprar imóvel?
O ano deve ser de juros dos financiamentos e preços dos imóveis mais altos. Especialistas aconselham pensar muito antes de comprar uma casa própria agora
O ano de 2021 começou com a confiança dos consumidores de imóveis a todo o vapor, com as famílias dando mais valor à casa própria na pandemia e os juros do crédito imobiliário em baixa. Contudo, ao longo do ano, a velocidade da compra de imóveis, principalmente daqueles destinados à classe média, caiu, devido à combinação de: alta de inflação e juros, cenário econômico e político incerto; e aumento dos preços dos imóveis. Neste ano, esse cenário deve continuar.
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Como o metaverso chegou ao mercado imobiliário
O valor médio dos imóveis residenciais subiu 5,29% em 2021, a maior elevação desde 2014, conforme o Índice FipeZap – ainda que, levando em conta a inflação de pouco mais de 10%, tenha havido queda real de 4,33%.
O resultado é o recuo na intenção de adquirir a casa própria nos próximos meses, que atingiu o menor nível em 12 meses. A proporção de pessoas que declarou a intenção de comprar imóvel caiu de 48% no segundo trimestre para 43% no terceiro trimestre do ano passado, de acordo com o dado mais recente disponível de um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e do Grupo Zap.
A parcela de pessoas que classificavam os preços como “altos ou muito altos” era de 74% no terceiro trimestre, a maior desde 2015. Para os próximos 12 meses, 42% dos compradores esperam alta dos valores, enquanto 26% preveem manutenção e 12%, diminuição.
“O ano vai ser uma continuidade desse cenário mais desafiador para o mercado imobiliário, com juros dos financiamentos e preços dos imóveis mais altos”, afirma Eduardo Zylberstajn, economista e coordenador do Índice FipeZap.
Segundo ele, ainda há espaço para aumentos de preços porque o mercado continua ativo, apesar do menor vigor em relação aos últimos anos. Contudo, as elevações devem ser moderadas devido ao cenário de inflação e juros altos, que reduzem a demanda pela compra da casa própria.
Especialistas aconselham cautela antes de comprar
Assim, com a combinação de inflação e juros elevados e imóveis caros, Zylberstajn aconselha pensar muito antes de adquirir a casa própria agora. Ele indica que só deve comprar imóvel quem estiver bem estabilizado, tanto em relação às finanças quanto ao planejamento da vida.
“As pessoas mudam de trabalho, casam, separam, têm filhos, os filhos mudam de escola. Recomendo refletir muito antes de tomar essa decisão”, sugere. “Os compradores de imóveis têm gastos com cartório, corretagem, impostos e reformas, e para vender a mesma coisa. É preciso ficar no imóvel pelo menos cinco anos para amortizar os custos da transação e valer a pena”, acrescenta.
Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas (FGV), aconselha aguardar para financiar imóvel. Ele espera que os bancos diminuam os juros do crédito imobiliário assim que a inflação for controlada e a Selic voltar a cair. Atualmente, a taxa básica de juros está em 9,25% ao ano e o Banco Central já disse que ela subirá mais.
“Comprar agora é comprar perto do pico. Indico esperar três ou quatro meses e então analisar se os juros vão começar a cair”, recomenda.
Contudo, essa sugestão é apenas para quem não tem pressa para comprar por algum motivo pessoal. Atualmente, a expectativa do mercado é que a Selic ainda aumente a 11,75% no final de 2022. Assim, é praticamente certo que o valor da parcela dos novos contratos de crédito imobiliário ainda vai subir antes de começar a diminuir.
Mas é bom lembrar que os consumidores que financiarem agora podem renegociar os juros no seu banco quando a Selic recuar ou fazer portabilidade, levando o crédito imobiliário para outra instituição financeira. Antes de contratar o financiamento, é aconselhável bater na porta de diferentes bancos e escolher com calma a melhor condição oferecida. É importante comparar o Custo Efetivo Total (CET), que inclui os juros e outras taxas embutidas.
Outra dica é compreender se os juros contratados são prefixados ou atrelados a algum indicador, como a TR, inflação medida pelo IPCA ou a poupança. Créditos com taxas indexadas ao IPCA e à poupança são mais arriscados no longo prazo. Se esses índices sobem rapidamente, como aconteceu em 2021, a parcela dispara e o consumidor precisa ter dinheiro guardado ou uma sobra de orçamento para amortizar o financiamento.
Fonte: Valor Investe